Sobre o uso dos personagens alheios

● Sobre o uso do personagem de outros jogadores

Para quem não entende direito como funciona o RPG, o RPG de mesa sempre tem um Mestre ou Narrador. No RPG de fórum, o Mestre ou Narrador é o moderador/administrador. A moderação nunca vai usar de forma exploratória personagens de outros jogadores, mas para dar fluidez à interação ela pode, ocasionalmente, imputar ações ou falas que sejam compatíveis com a ocasião e com a personalidade do personagem em questão. Se ele foi retratado por seu próprio jogador como enfraquecido e acamado, por exemplo, e no post do moderador for dito que ele desmaiou, principalmente se caiu um tijolo na cabeça dele nesse momento, não há problema em dizer que ele desmaiou.

Não é usar personagem de outrem criar situações para ele através do nosso personagem. Meu personagem quer chegar de um ponto a outro da rua e o personagem de outro jogador bloqueia a rua. Não tem o menor cabimento "resolver" o obstáculo ou a complicação colocada para mim por meio de eu retratar no meu post que esse obstáculo não existe. "Estava lá Zé Mané dirigindo pela avenida principal, quando um cara achou que havia espalhado tachinhas pelo asfalto mas, na verdade, ele não havia espalhado nada, as supostas tachinhas tinham defeito e estavam sem ponta"... Isso não apenas é usar o personagem de outro e retratá-lo em desacordo com as intenções de seu player, como é deus ex machina, como já dito, artifício não reconhecido neste fórum.

● Personagens sem cadastro

Quanto a interpretar personagens que não são de ninguém como, por exemplo, recepcionista da academia ou do hospital, um leitor na biblioteca, um fazendeiro na Sleepy Hollow, personagens que não têm perfil/cadastro no fórum, isso é válido para qualquer um. Que o player não vá abusar e retratar o prefeito o convidando para uma festa de homenagem em que ele ganhará títulos de cidadão exemplar, que já seria "overpowerismo". A pessoa pode também, se quiser, solicitar que alguém faça a interação para ela. E sempre vai ter quem a faça aqui. Se o meu personagem está enfartando na academia e eu pedi para chamarem uma ambulância, eu mesmo posso descrever o paramédico chegando, prescrevendo um placebo e se arrependendo instantaneamente de modo que, para purgar seu pecado, ele pula do terceiro andar da academia na mesma hora. Esta narrativa seria acatada porque é compatível com o módulo. Se existe um clã de vampiros cuja disciplina tem o poder de induzir as pessoas à loucura, não há o menor cabimento em ficar avesso às mais bizarras mirabolâncias.

● A dica

Se eu tenho uma trama, um objetivo, e outro personagem cruza ou dificulta para o meu personagem atingir o meu objetivo, no exemplo das tachinhas na avenida eu poderia fazer o quê? Furou o pneu? Furou o pneu, eu continuo pela avenida correndo para não perder a hora e chamo um táxi mais adiante, ao invés de eu partir para dizer que nada do que o outro fez aconteceu, que tudo não passou de uma alucinação dele ou que as tachinhas eram defeituosas. Não é tecnicamente correto reduzir a zero o esforço do outro jogador e muito menos prudente, porque você nunca sabe quantos mais estão envolvidos ou vão precisar daquele gancho para desenvolver suas tramas pessoais - ou a própria trama do fórum. E independente disso, a trama individual de cada personagem deve ser respeitada. Tem como eu contorná-la para manter a minha trama no caminho que eu quero que ela siga? Tem. Corro e pego um táxi mais à frente, que na avenida principal com certeza sempre vai ter alguns esperando passageiro junto ao meio-fio. Mas não é nem de longe boa técnica chegar onde eu quero para o meu personagem, contornando o que entendo como obstáculo por meio de dizer que o obstáculo não existe... Está claro que isso é deus ex machina, e deus ex machina é o "artifício" mais canhestro que um jogador pode usar no RPG.